segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

DINAOR PEDROSO VAI LANÇAR "HISTÓRIAS DA MINHA VIDA"

O lançamento, em noite de autógrafos, será no dia 8 de janeiro de 2016, às 19h, no salão paroquial de São Raimundo, no bairro da Aldeia, em Santarém

Daqui a exatos 25 dias, acontecerá o lançamento do livro autobiográfico "Histórias da Minha Vida", do mocorongo Dinaor Pedroso, músico aposentado, ex-seringueiro, ex-jogador de futebol, ex-pescador, ex-agricultor, ex-operário da construção civil, ex-regateiro, ... Hoje, aos 88 anos, Dinaor continua um excelente contador de causos.

No livro, Pedroso narra sua própria trajetória de vida e os desafios que precisou vencer, entre eles o esforço hercúleo - hoje, quase impossível - de criar e formar os onze filhos que teve com o grande amor de sua vida, Dulce.

O livro é escrito como se seu autor contasse causos em torno de uma piracaia nas praias alvíssimas da vila de Aramanaí, sua terra natal, na margem direita do belíssimo Tapajós.

Destaque especial ganha o período de músico profissional do autor, quando comandou o Conjunto do Pedroso, com apresentações inesquecíveis em cidades e comunidades rurais ao longo do rio Amazonas, entre Parintins e Almeirim, e do rio Tapajós, entre Itaituba e Santarém.

O lançamento, em noite de autógrafos, será no dia 8 de janeiro de 2016, às 19h, no salão paroquial de São Raimundo, no bairro da Aldeia, em Santarém.

Produzido quase integralmente em família, "Histórias ..." teve os manuscritos digitados por Felipe Pedroso e Domitila Pedroso, revisado por Graça Pedroso, editado pelo jornalista José Maria Piteira, e impresso pela Graphitte Editores.

Todos estão convidados.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

COM RENÚNCIA, VEREADORES PREPARAM ELEIÇÃO DE NOVO PREFEITO

Zé Costa (PT), prefeito afastado de Monte Alegre, bem que tentou, buscou todas as alternativas para se manter no cargo, seus advogados negociaram o que foi possível, mas nada foi capaz de reverter o quadro amplamente desfavorável que enfrentou desde que foi afastado, em setembro passado. A vereadores aliados prometeu o possível e o impossível, aos amigos tentou passar um quadro confortável, de tranquilidade. Em vão!

Por volta das 15h30, ele, sem outra opção, entregou ao vereador Jezrrel Meireles (PMDB), presidente da Comissão processante, sua carta-renúncia, encaminhada ao vereador Leonardo Albarado, presidente da Câmara Municipal.

Neste momento, a Câmara Municipal de Monte Alegre, depois de tomar conhecimento da renúncia, acaba de decidir pelo arquivamento da denúncia de improbidade contra o ex-prefeito. A próxima etapa é a eleição de novo prefeito, novo vice e nova mesa diretora da Câmara Municipal de Monte Alegre. Mas esta é uma decisão que os vereadores ainda tomarão nas próximas horas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CASSAÇÃO OU ABSOLVIÇÃO?


Será amanhã, sexta-feira, às 17h, a sessão da Câmara Municipal de Monte Alegre que vai apreciar o relatório da Comissão Processante criada para apurar denúncias de improbidade administrativa contra o prefeito Zé Costa (PT). 

Zé Costa, que era vice do então prefeito Sérgio Monteiro (PT), e que renunciou para não ser cassado, foi afastado pelo Legislativo local no dia 24 de setembro passado. Anselmo Picanço, presidente da Câmara Municipal, assumiu interinamente a Prefeitura.

Até ontem, era certo que o relatório redigido pelo vereador Adson Leão (PTdoB) pediria a cassação do prefeito afastado. Hoje, a expectativa virou a favor do prefeito. Até ontem, havia até a possibilidade de Zé Costa apresentar, hoje, sua carta-renúncia, que já estaria redigida, para não perder seus direitos políticos. Hoje, pessoas ligadas a ele dão como certa sua absolvição. A mudança repentina de cenário surpreendeu a muitos e causou estranheza.

Entidades da sociedade local mobilizam a população para acompanhar a sessão da Câmara Municipal. É grande a expectativa.

Se os vereadores cassarem Zé Costa, ou se ele renunciar para evitar este ato, a Câmara Municipal terá de eleger um novo prefeito e um vice, dentre os atuais edis, assim como escolher uma nova Mesa Diretora.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PREFEITO DE MONTE ALEGRE É AFASTADO POR 120 DIAS


Zé Costa (PT), prefeito de Monte Alegre, no oeste do Pará, acaba de ser afastado pela Câmara de Vereadores, acusado de improbidade administrativa.

Uma comissão processante foi instalada pelo Legislativo local para apurar, no prazo de 120 dias, denúncias contra sua administração. Os membros da comissão são os vereadores Sady Dal'Agnol (PMDB), Adson Leão (PTdoB) e Jezreel Meireles (PMDB), sob a presidência deste último.

Os vereadores ausentes foram Jean Vasconcelos (PR), Zeca Bento (PT), Jorginho Andrade (PR) e Maria Macedo (PSDB).

Como Zé Costa era vice-prefeito e assumiu o cargo com a renúncia do então prefeito Sérgio Monteiro (PT), o cargo passa a ser ocupado interinamente pelo presidente da Câmara Municipal, Anselmo Picanço (PTB).

quarta-feira, 29 de julho de 2015

NO PEMA, A HERANÇA DOS PALEOÍNDIOS SOB AMEAÇA

O Pema foi ciado em 2001 e guarda sítios arqueológicos que ajudam a explicar o processo de ocupação humana do continente americano, mas segue sem as obras prometidas, sem fiscalização ou qualquer controle dos visitantes. Esse patrimônio está ameaçado

Os sítios arqueológicos do Parque Estadual Monte Alegre (Pema) atrai milhares de turistas, todos os anos. Pesquisas arqueológicas encontraram lá as marcas mais antigas da presença do homem na Amazônia. A arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, autora do trabalho mais completo sobre esses povos, no anos 1980-90 do século passado, denominou-os de “paleoíndios amazônicos”. Algumas das marcas encontradas pela pesquisadora têm mais de 11 mil anos.

No sábado, 25, os aventureiros da Expedição Maicuru não puseram seus caiaques n’água: eles subiram as serras do Pema em busca dessa herança deixadas pelos primeiros homens da Amazônia. Eles foram à Caverna da Pedra Pintada, na serra do Paytuna, um dos focos principais das pesquisas de Anna Roosevelt, onde ela fez escavações e encontrou uma ponta de flecha de pedra, considerada a peça mais antiga herança deixada pelos paleoíndios. As paredes da caverna são ricamente decoradas com pinturas rupestres.

Eles também visitaram um belo painel de pinturas localizado próximo à caverna da Pedra Pintada, além da Pedra do Pilão e outros mirantes naturais existentes no Pema. Do alto destes, vê-se o rio Amazonas, dezenas de lagos, igarapés, paranás, além da cobertura florestal da região, majoritariamente de cerrado. São locais que impressionam pela beleza cênica e panorâmica, pelo vento forte, pela natureza bem preservada que ainda predomina.

Mas é uma pena que o Pema, uma unidade de conservação estadual criada em 2001, ainda viva efetivamente sem qualquer proteção, aberta ao vandalismo, um desrespeito criminoso a um patrimônio histórico-cultural de valor inestimável. Várias de suas pinturas apresentam danos causados por visitantes, além de pichações em monumentos naturais, como a Pedra do Pilão.

Uma pena!

EXPEDIÇÃO MAICURU: AVENTURA E EMOÇÃO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA


Em caiaques, aventureiros de Belém, Manaus, Santarém, Aveiro e Bujaru percorreram mais de 90 km do rio Maicuru e outros afluentes do rio Amazonas, em Monte Alegre. Lá, eles também conheceram locais onde viveram os primeiros habitantes da Amazônia, os “paleoíndios”.

Ainda de longe, a cerca de meia hora antes da chegada, já era possível se ouvir os fogos e o som da recepção que os moradores locais haviam preparado aos aventureiros da “Expedição Maicuru: Canoagem e Trekking no Coração da Amazônia”. Aqueles sons mexeram com a emoção dos onze canoístas, animando-os a remar ainda mais. Do barco de apoio que os acompanhava também foi lançado um rojão.

Era a senha da confirmação: “Eles estão chegando!” Era o dia 24 de julho. Eles já remavam há dois dias, estavam exaustos, o cansaço era visível em seus rostos. O sol, até então inclemente, havia arrefecido um pouco, pois já passava da metade da tarde. A proximidade do próximo ponto de parada, na comunidade São Diogo, injetou ânimo em todos. Sem que percebessem, um pequeno barco veio encontrá-los. Nele, três mulheres – uma delas com uma criança no colo e um guarda-sol vermelho –, um rapaz e um garoto anteciparam a recepção aos aventureiros. Uma cena emblemática da cordialidade daquele povo.

Na margem do rio, em frente a uma escola pública, rojões estouravam, o locutor anunciava a chegada dos canoístas, dava-lhes boas vindas, e a música-tema do filme “Carruagens de Fogo” tocava ao fundo. Eram cerca de cem pessoas, que acorreram ao ponto aonde os canoístas encostavam seus caiaques. Aplausos para eles, gritos de saudação. Os celulares foram acionados para registrar aquele momento inédito em fotos e filmes. Foi uma recepção emocionante.
Recepção festiva dos moradores da comunidade São Diogo emocionou os aventureiros

“Emocionante, sem igual! Nunca vivi isso antes!”, disse Rodopiano Rocha da Silva, 38 anos, natural do município de Bujaru, na região nordeste do Pará, um dos canoístas participantes.

A organização e coordenação do evento foram do canoísta Pedro Paulo Sousa. A Expedição Maicuru teve apoio da Prefeitura de Monte Alegre, através da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur).

Águas tranquilas – A chegada à comunidade São Diogo, distante cerca de 30 km da cidade de Monte Alegre, foi um dos momentos de grande emoção vividos pelos aventureiros da Expedição Maicuru, que começou no dia 23 de julho e se encerrou no domingo passado. Foi o ponto de chegada no segundo dia da expedição, que começou na comunidade Cuiabal, na margem direita do rio Maicuru, às 9h do dia anterior (23/07). Foi o primeiro evento de esporte de aventura no “Rio dos Balateiros de Monte Alegre”, no trecho abaixo da ponte da rodovia PA-254 até sua foz, no Lago Grande de Monte Alegre.

A largada deveria ser junto à ponte da PA-254, mas foi alterada para se evitar as fortes corredeiras do Panacum e da Muíra e também para permitir que o final da viagem se desse na cidade de Monte Alegre.
Pedro Paulo Sousa, coordenador do evento

“Foi uma decisão comandada pela prudência, ninguém conhece esse rio como os balateiros do passado, mas sabemos da sua força e dos perigos que ele representa. Preferimos, então, navegar pelo trecho de águas tranquilas do rio”, afirmou Pedro Paulo Sousa, o coordenador do evento.

Canoagem – Desde a largada, na comunidade Cuiabal, até a cidade de Monte Alegre, foram 91 quilômetros percorridos no rio Maicuru, na foz do rio Paytuna e trechos do Lago Grande de Monte Alegre e do paraná Gurupatuba, que banha a cidade de Monte Alegre.

No primeiro dia, a saída rumo ao local da largada se deu pouco depois das 6h, em ônibus cedido pela Prefeitura de Monte Alegre. O percurso incluiu o trecho inicial da rodovia PA-255 e passou por estradas vicinais que cortam assentamentos de pequenos agricultores locais. Os caiaques foram em um caminhão.
Edval Lemos (com chapéu de palha) relata a Pedro Paulo Sousa detalhes de como era a vida dos balateiros do Maicuru. Uns fizeram dinheiro, outros só acumularam dívidas, enquanto muitos acabaram enterrados na comunidade Cuiabal

No Cuiabal, enquanto os caiaques eram preparados para a viagem, alguns canoístas conheceram e conversaram com o ex-balateiro Edval Lemos, 84 anos, doze dos quais vividos na exploração da balata. Esta, na primeira metade do século passado, era um produto disputado por grandes companhias estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos e da Inglaterra. Ela fez a riqueza de muitos, mas também trouxe a morte para centenas deles.

“Aqui no Cuiabal tem um cemitério onde foram enterrados aqueles que, doentes, não conseguiram chegar a Monte Alegre. Aqui morreram, aqui foram enterrados, sem qualquer cerimônia”, disse o ex-balateiro.

Cuiabal era um dos pontos de partida rumo aos balatais do norte de Monte Alegre e também a primeira parada deles, na volta. “Na época, isto aqui era muito animado, corria dinheiro, tinha até puteiro”, afirmou Edval, também sem cerimônia.

Antes das 9h, os barcos já estavam n’água. Eles se apressaram, pois precisavam chegar ainda com sol ao primeiro ponto de parada, na comunidade Cauçu, 25 km abaixo, junto à ponte da rodovia PA-255. Remaram tanto que chegaram ao local com o sol ainda alto. Deu até tempo para um rapel na ponte, o que atraiu a curiosidade de moradores locais.
Foram quase 91 km de canoagem, extensão percorrida em três dias

À noite, depois de um jantar farto e variado oferecido pelo dono do retiro Varlin, os aventureiros se reuniram em torno de uma fogueira junto à margem do rio para “jogar conversa fora”. Entre os “causos”, relatos sobre cobra grande, visagem, lobisomem, de mulher que vira porca, ataques de onça e de piranha ... A guarnição da PM que visitou o local tratou de cuidar de uma ocorrência na vila da Canp (Colônia Agrícola Nacional do Pará), próxima dali. Depois, silêncio geral, até que todos foram acordados, lá pelas 5h30, pelo cantoria barulhenta de um bando de guaribas.

No dia seguinte, partiram cedo, pois precisariam percorrer quase 36 km até a comunidade São Diogo. Nesta, à noite, os aventureiros se reuniram na escola municipal para assistir a dois filmes: “Imagens de Gurupatuba” (o termo se refere ao primeiro nome da vila de Monte Alegre, o mesmo do povo que habitava o local), de Fernando Segtowick, sobre a história do município, e “Balatais de saudade”, de Gavin Andrews, uma narrativa sobre a saga dos balateiros, com depoimentos de vários deles.
O ex-balateiro Antonio Machado, 91 anos, emocionou-se ao ver as imagens do segundo vídeo. “Era assim mesmo, era assim mesmo”, repetia ele ao canoísta Alfredo Barreto, 45 anos, ao ouvir os relatos, no vídeo, sobre as dificuldades e sofrimentos vividos pelos balateiros ao longo de suas vidas.

“Impressionante, eu moro aqui na Amazônia e não sabia de toda essa história dos balateiros do rio Maicuru”, afirmou Douglas Bícego, 51 anos, após a exibição dos vídeos. Um dos canoístas da Expedição, ele é um mineiro que há anos mora na cidade de Manaus. “Estou maravilhado com tudo isso!”.

O último trecho da canoagem foi entre a vila de São Diogo e a cidade de Monte Alegre, no dia 26, uma distância de mais de 30 km. Eles saíram logo cedo, depois de se despedirem dos moradores. Em parada breve na comunidade Paytuna, almoçaram na casa de Luiz Gonzaga Andrade, que fez questão de assar peixe para todos. Toda a família do líder comunitário foi muito cordial com os aventureiros.

Eram pontualmente 17 horas quando eles chegaram à Estação Hidroviária de Monte Alegre, onde foram recebidos por meia centena de pessoas, com rojões e aplausos. Estava encerrada a Expedição Maicuru.
Da comunidade Paytuna, os canoístas puderam visualizar a cidade de Monte Alegre. A Expedição Maicuru se aproximava de seu final

Para a maioria dos participantes, o evento foi a melhor aventura de canoagem que já fizeram na vida. Felizes com o resultado, já pensam em novo evento, em novembro, em pleno verão, com as águas do rio Maicuru em seu nível mais baixo.

“Foi uma das melhores expedições de que já participei”, afirmou Pedro Paulo Sousa, com a experiência de quem já navegou nos rios São Francisco, Araguaia, Tapajós e Arapiuns e atravessou várias vezes a Baía de Guajará, em Belém.

O resultado final também agradou a Prefeitura de Monte Alegre. No sábado, 25, enquanto os aventureiros foram ao Pema, a Prefeitura ofereceu vários serviços públicos à população da comunidade São Diogo e arredores.
“Monte Alegre tem atrativos turísticos importantes e valiosos, e sabemos o quanto um evento como a Expedição Maicuru pode ajudar a divulgar nossas potencialidades e nos ajudar a desenvolver o turismo sustentável”, afirmou o secretário local de Turismo, Eliselmo Picanço.

domingo, 26 de abril de 2015

EXPEDIÇÃO MAICURU: A AVENTURA JÁ COMEÇOU


Na corredeira do Panacum, as primeiras emoções. Pedro, o coordenador, acompanhou em mapa os traçados e perigos do Maicuru

A viagem foi da coordenação da "Expedição Maicuru - Canoagem e Trekking no Coração da Amazônia", com o objetivo de conhecer o trecho do rio onde vai acontecer o evento, em julho, identificar seus maiores desafios, anotar os prováveis locais para almoço, jantar e pernoite dos aventureiros. Mas acabou sendo muito mais do que isso!

O Maicuru surpreende não apenas quem não o conhece, mas também aqueles que garantem conhecê-lo palmo a palmo. E acabou não sendo apenas uma viagem, mas duas, ambas cheias de surpresas! E a principal delas (a que aqui darei destaque), com a presença do coordenador Pedro Paulo Sousa, só foi possível com a entrada em cena de dois desconhecidos que, de uma hora pra outra, viraram protagonistas em um roteiro onde sequer apareciam como figurantes.

Pedro, o guia Vavá Pinto e eu chegamos à ponte da rodovia PA-254 sobre o Maicuru, em Monte Alegre, às 8h15 da manhã do dia 18 de abril, sábado. Vavá, líder comunitário e ex-vereador, já subiu o Maicuru até próximo às suas nascentes, e por isso o convidamos. Na ponte, deveríamos nos encontrar com a outra parte da equipe que subiria o rio a partir da ponte da PA-255, que liga o município ao vizinho Santarém. Esta era formada pelo guia turístico Roberto de Deus, pelo pescador Duca e pelo piloto Rabib Abud. Desde a madrugada, uma chuva forte e demorada caia sobre a região, mas, com a proximidade do dia, ela cedeu e se tornou intermitente. Quando chegamos ao local do encontro, ela teimava em cair, ainda que mais fraca. Mas o encontro marcado não aconteceu.

A viagem de descida no rio estava programada para as 8h, em uma lancha empurrada por um motor de 45 cavalos, mas somente duas horas depois é que nos convencemos de que a segunda parte da equipe não se juntaria a nós. "Aconteceu alguma coisa com eles, na subida. Acho que ficaram engatados na Muíra", afirmou o Vavá Pinto, referindo-se às muitas dificuldades que a equipe teria encontrado para vencer a maior das cachoeiras existentes no trecho do rio escolhido para a Expedição Maicuru (na verdade, nesse trecho do rio não há cachoeiras, no sentido de quedas-dágua, mas apenas corredeiras; já no médio e alto Maicuru, elas são altas e belas). "Vamos logo ver um outro jeito pra descer o rio", sugeriu. E logo pensamos em usar uma das canoas de madeira existentes no porto junto à ponte, empurradas por rabetas. Após rápida negociação, a jovem Renata, filha de Rosângela Santos, dona de um pequeno comércio próximo à ponte, cedeu-nos sua canoa já equipada com a pequena máquina. “É de sete”, afirmou, referindo-se à potência do motor.

A viagem ganhara um novo ingrediente de emoção. A Expedição, marcada para acontecer no período de 23 a 26 de julho, começava naquele momento. E ganhava dois novos protagonistas: Nailson Santana e Cleudo Barros, ambos de 36 anos, pescadores locais, que aceitaram a missão de nos levar até a comunidade de Cuiabal, a primeira abaixo da corredeira Muíra. Sem saber se encontraríamos a equipe que subiria o rio, combinamos com Manuel Souza, motorista cedido pela Prefeitura de Monte Alegre para nos dar apoio, para nos apanhar na comunidade de Cuiabal. Nailson, que assumiu o papel de piloto da rabeta, calculou que a viagem levaria cerca de uma hora e meia. Mas ela demoraria muito mais.

Vencida a dificuldade inicial de se equilibrar dentro da estreita canoa – Pedro Paulo e eu nascemos quase dentro do rio Tapajós, em Santarém, ele é praticante de canoagem, mas confesso que pendemos de um lado para outro, por pouco não fazendo a canoa alagar -, a viagem correu tranquila, até surgirem os primeiros rebojos.
Enquanto aguardávamos a outra parte da equipe de viagem, Pedro e Vavá avaliam os primeiros perigos do rio. Em primeiro plano, a canoa que usaríamos na viagem. No alto, à esquerda, o linhão de transmissão que ainda não fornece energia aos moradores da região

Mesmo já no fim do inverno, as chuvas que ainda caem sobre a região são intensas e demoradas, ajudando a elevar o nível dos rios da Amazônia. Com o Maicuru isso não é diferente, apesar de ele estar com o nível abaixo do que esperavam os moradores locais. Apesar disso, a maioria dos inúmeros pedrais existentes em seu leito está encoberta pelas águas. É o que indicam os rebojos que a todo momento se formam na superfície do rio. São eles que indicam a direção que Nailson deve dar à canoa, evitando o choque com as pedras. Um encontro com uma delas representaria um risco sério a todos. Mas ele conhece o rio como poucos, demonstra coragem, e isso nos tranquiliza. Mais à frente, no entanto, ele trocou o destemor pela prudência.

A proximidade da corredeira do Panacum, cerca de uma hora depois, foi anunciada pelo soar característico de água cortada pelas pedras. Pedro, sentado no banco de proa da embarcação, deu um grito de emoção ao ver as primeiras pedras e as águas revoltas. Uma leve bruma subia do turbilhão, de uma margem a outra do rio, com cerca de 200 metros naquele ponto. Nailson reduziu a força do pequeno motor, ficou de pé na canoa, que pendeu de um lado ao outro, rapidamente. A visão da corredeira exigiu dele uma avaliação rápida, quase instantânea, e, repentinamente, ele girou a canoa para a margem esquerda, buscando um ponto onde pudesse encostar. “É melhor vocês descerem, vão pelo mato, e a gente apanha vocês depois da cachoeira”, sugeriu, quase ordenando. Concordando, Pedro logo indicou um local junto a um grupo de urucuris (Attalea phalerata), espécie de palmeira muito comum na região, onde saltamos. As primeiras feridas logo seriam abertas.
Em julho, as águas do rio estarão menores, os pedrais mais exposto: maior perigo e mais emoções aos aventureiros que vão desce-lo em caiaques

Um caminho de gado facilitou o início da caminhada. O local não era de mata fechada, mas um pasto mal cuidado, tomado por um mato rasteiro, quase uma capoeira, e farto de espinheiros, cipós e uma espécie de capim cortante, parecido com o tiririca. Pedro, acostumado com suas viagens de aventura, estava de tênis, calça e camisa compridas. Vavá, idem. Ambos, protegidos. Eu, apenas de sandálias de dedo, camiseta e bermuda. Logo me arrependeria por não ter usado uma calça comprida que levei para essa finalidade, mas que deixei na cidade.

Ao descer um baixão com o mato mais elevado – Pedro e Vavá estavam mais à frente, eu havia ficado para fazer umas fotos da corredeira –, senti os primeiros agarramentos pelo boné, camisa e bermuda. E também dores ardidas, como de agulhas em brasa. Voltando ao pasto, vi o sangue que brotava de três pequenos ferimentos no braço direito, riscos avermelhados nas pernas, também com pequenas gotas de sangue. Parei, olhei pra traz para recolher meu boné que havia sido arrancado da cabeça. Foi, então, que percebi que havia passado por entre espinheiros e capins cortantes. Sem motivo aparente, lembrei-me de meu filho Felipe, que um dia, brincando, me disse: “Macho que é macho não bebe o mel: ele mastiga a abelha”. Eu não estava ajudando a planejar uma expedição: eu já a vivia, plenamente. Respirei fundo, limpei o suor que escorria pelo rosto e segui em frente. Mas eu não imaginava o que ainda iria nos acontecer.

Habilidosos, e com a canoa livre de nossos pesos, Nailson e Cleudo atravessaram a corredeira do Panacum com alguma dificuldade, mas sem risco. Pedro, Vavá e eu os observamos do alto da margem. Mais abaixo, em um local menos perigoso, voltamos a embarcar.

Ao longo do rio, pequenas aberturas na densa mata ciliar denunciam a presença humana. Ao olhar com mais atenção, viam-se casas modestas de madeira, a maioria coberta com palha. Pequenos animais domésticos corriam pelos quintais: uns ciscavam, outros fuçavam, ou pastavam. Em algumas delas, mulheres cuidavam de afazeres domésticos, crianças esbaldavam-se no banho de rio e outras brincadeiras. Homens, em dupla, e usando canoas de tamanho mínimo, pescavam. Parece que haviam combinado ser proibido o uso de outro apetrecho de pesca que não fossem a tarrafa, o caniço e pequenas armadilhas, como os espinhéis. Malhadeiras, nenhuma!

Abaixo da corredeira do Panacum, as casas se tornam mais frequentes ao longo do rio, algumas como sede de pequenas fazendas de criação de gado. Estreitas estradas findam e recomeçam nas margens do rio, onde os mais ousados atravessam suas motos em pequenas bajaras. Larguras de dois ou três dedos no casco evitam que alaguem. O equilíbrio e tranquilidade deles impressionaram os citadinos.
Ao longo do rio, pescadores tiram dele parte do sustento de suas famílias. Espécies como o surubim, a curimatã, o tucunaré, a pirapitinga e o tambaqui ainda são abundantes

Não apenas a densa floresta ciliar fala de uma região ainda farta de natureza, apesar da crescente invasão humana. Os locais falam com entusiasmo da abundância e diversidade de peixes. Espécies como o surubim (Pseudoplatystoma corruscans), a curimatá (Prochilodus lineatus), o tucunaré (Cichla ocellaris), a pirapitinga (Piaractus brachypomus) e o tambaqui (Colossoma macropomum) ainda são pescadas em grande quantidade, especialmente os de piracema. Aves como maguaris (Ciconia maguari), garças (Ardea alba), socós-boi (Tigrisoma lineatum) e arirambas (Galbula ruficauda) são vistas ao longo do rio, geralmente sozinhas ou em pares, onde encontram alimento farto. Os biguás (Phalacrocorax brasilianus) são mais numerosos, geralmente em pequenos bandos. Ariscos, logo se afastam com a nossa presença. Em alguns locais, a algazarra das cigarras (Carineta fasciculata é a espécie mais comum no Brasil) macho tentando impressionar as fêmeas para o acasalamento – nosso folclore diz que elas chamam o verão - é ensurdecedora, um canto que ecoa na margem oposta do rio e é levado pelo vento.
Garças, maguaris, arirambas e biguás são vistos ao longo do ri, que as alimenta com abundância e variedade de peixes

Por volta das 13h30, depois de muitas curvas do rio, chegamos à temida Muíra – temida não apenas por ser a maior corredeira naquele trecho do rio, mas porque ela se abre em três corredores, todos igualmente tomados por lajeiros e pedras que se elevam acima do nível da água, mesmo nesta época de rio cheio. É difícil saber qual deles é o menos perigoso. Em janeiro passado, quando Pedro e eu lá estivemos para um primeiro contato com aquela corredeira, pareceu-nos que o canal da esquerda era o menos agressivo. Nailson e Cleudo demonstraram não conhecer bem aquele ponto do rio. Vavá Pinto sugeriu o braço da direita, mas sem muita convicção. Pedro e eu decidimos, então, pelo corredor esquerdo, e Nailson para lá dirigiu nossa canoa. Mas, que nada!

Logo após a primeira curva à direita, e sem muito espaço e tempo para uma manobra repentina, logo as pedras surgiram à nossa frente, ameaçadoras, distante pouco mais de vinte metros. A surpresa nos causou susto, apreensão... Com habilidade surpreendente no manejo da rabeta, Nailson fez um movimento brusco, levantando o eixo de metal com a palheta da pequena máquina, afundando-o em seguida um pouco mais à esquerda, acelerando-o ao máximo. O pequeno casco girou rapidamente à direita e, desequilibrado, foi empurrado à margem principal. Ainda tomados pelo susto, alcançamos a margem, onde Pedro, não sem dificuldade, saltou e segurou a canoa, prendendo-a com a corda a um galho de árvore.

Todos descemos. Era preciso avaliar os riscos, evitar acidentes. Entramos na mata, margeando o rio, e vimos de perto a força das águas sendo cortadas pelas pedras. Diante do perigo evidente, mas evitável, a prudência prevaleceu. E decidimos: Pedro e eu seguiríamos por terra, acompanhando a margem do rio, tentando chegar ao final do ramal da Muíra, onde estivemos em janeiro passado, que se inicia na estrada que leva à comunidade de Santos, na margem esquerda do rio Maicuru. Vavá, Nailson e Cleudo tentariam levar a canoa por um dos braços da corredeira. Se tudo desse certo, nos encontraríamos cerca de 400 metros rio abaixo. “Vai dar tudo certo”, garantiu Vavá. “Mas, cuidado: não se afastem da margem do rio”, alertou. Mas haveria um risco que não tínhamos avaliado.

De início, por um terreno que misturava pasto e capoeira, seguimos um caminho de gado já parcialmente coberto pela relva, que logo depois sumiu. Fomos em frente, ouvindo o som da corredeira à nossa direita. A subida do nível do rio fez os pontos mais baixos do terreno ser invadidos pela água. A chuva deixou a relva e os arbustos molhados, o solo estava encharcado, a água se acumulava em vários pontos, formando poças. Marcas de patas e fezes indicavam que havia gado na área. Para evitá-los, era importante olhar para os lados e para a frente, mas sem dispensar atenção com o chão. Pisar em uma cobra ou um inseto peçonhento só tornaria as coisas ainda piores para nós naquele momento – e estávamos longe demais do mais próximo ponto de provável socorro. Mais adiante, o pasto havia se tornado em capoeira. O caminho de gado havia sumiu. A adrenalina estava alta em nossos corpos. Chegamos a um pequeno urucurizal, atravessamos um córrego, seguimos em frente. 
E, depois de uma das tantas curva do rio, eis que surge a Muíra, ameaçadora, perigosa. Vista apenas de longe, não possível descê-la. Isso ficou para Nailson, Cleudo e Vavá

Depois de meia hora, paramos, senti o Pedro um tanto temeroso. Assumi a dianteira, guiado apenas pela zoada da corredeira à nossa ilharga direita. Descemos um baixio, subindo-o em seguida e, surpresa, vislumbramos uma cerca de arame liso a uns vinte metros. Lembramos da cerca ao lado do ramal da Muíra que víramos em janeiro, mas a decepção não demorou. Depois dela, apenas um amplo pasto. Ultrapassando-a, resolvemos descer à direita, rumo ao rio, depois de ouvir algo que nos pareceram vozes e o som do rabeta. O Pedro gritou. Nada! Gritei também. Nada! “Ou são eles, ou é um curupira tentando nos enganar”, brinquei, esforçando-me em manter nosso moral elevado. Chegamos à margem em um ponto do rio onde não havia pedras. Ao tentar descer o barranco da margem, escorreguei, caí, mas logo levantei e limpei a lama da bermuda. Pedro passou a usar o apito de seu colete de navegação, sem resposta. Voltei a gritar, insistentemente e o mais alto possível. Nada! “Pedro, será que teremos um capítulo intitulado ‘Perdidos’, no livro que vamos escrever sobre a Expedição?”, insisti no bom humor, mas já claramente preocupado. Estávamos, sim, perdidos! 

Deixamos a margem, voltando ao pasto por onde havíamos passado antes e retomamos a caminhada no rumo que acreditávamos ser o correto, margeando o rio. O sol indicava que estávamos quase no meio da tarde, e a fome já nos incomodava. Como os judeus do Êxodo, fomos salvos pela natureza: demos de cara com uma frondosa mangueira, carregada de frutos amarelinhos. Sob ela, centenas deles. Comemos duas, cada um. Sem saber como terminaria o dia, coloquei mais quatro nos bolsos da bermuda. E seguimos. 

Mais adiante, mais gritos de chamada aos nossos parceiros de aventura. Nada! Sem falar um pro outro, era certo que nos perguntávamos: “Será que eles conseguiram descer a corredeira, venceram as pedras?”, “Deu certo, ou a canoa virou e eles desceram de bobuia?”, “Se não os encontrarmos, o que faremos?”. De repente, vozes, gritos. Seriam eles, ou seria o curupira brincalhão? Gritamos de volta, eles responderam. Apressamos o passo, animados. Eu tinha motivos pra não disfarçar o sorriso de alívio e satisfação. Era o Vavá. Estávamos salvos! Ele nos guiou por uma capoeira alta e logo chegamos à casa velha e abandonada que havíamos visto, em janeiro. Mais um pouco e – ufa, alívio! – vimos a cerca e o ramal que buscávamos, onde encontramos Nailson e Cleudo, além de um casal morador local e uma criança. Puxa, que alegria em vê-los. A viagem não estava terminada, mas essa era a sensação! Meu relógio marcava pouco mais de 14h. Precisávamos seguir em frente. Despedimo-nos do casal e partimos, descendo o rio.

Chegamos à comunidade de Cuiabal às 15h30, onde Manuel Souza, o motorista da prefeitura, já nos aguardava. Foi o segundo alívio, pura satisfação. Depois de lanchar e abastecer a rabeta, agradecemos enormemente a Nailson e Cleudo pela colaboração deles, convencidos de que aquela viagem não chegaria ao fim sem a participação deles. 

Deixamos o Maicuru rumo à cidade de Monte Alegre. Os dois rapazes voltaram ao rio, rumo à comunidade Três Marias, junto à ponte da PA-254, onde moram. Vão lembrar daquele dia para sempre, com certeza, pela aventura em si, mas também pelos novos conhecimentos que somaram sobre o rio que julgavam conhecer como a palma de suas mãos.

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PS: No Cuiabal, tivemos notícias da equipe que deveria nos apanhar na ponte da PA-254: eles tentaram vencer as águas e pedrais da Muíra, sem sucesso. O casco de alumínio da lancha sofreu avarias nas pedras e, sem opção, voltaram à cidade. Em Monte Alegre, por telefone, o guia Roberto de Deus confirmou a história.

Em julho, as águas do Maicuru estarão mais baixas, expondo os pedrais e lajeiros de seu leito e tornando a descida ainda mais perigosa. Também mais emocionante? “Certamente que sim”, garante Pedro Paulo, o coordenador da Expedição Maicuru.

A viagem de sábado surpreendeu pessoas experientes, que julgavam conhecer muito bem o rio e seus perigos. Como será com os aventureiros que vão descê-lo em caiaques, em julho próximo?

Isso será narrado em um próximo capítulo.