terça-feira, 17 de abril de 2012

PRODUÇÃO DE ENERGIA: REDE CELPA NEGA AMEAÇA DA GUASCOR

Desde ontem, em rede estadual de TV, a concessionária Rede Celpa está dando publicidade a documento que teria recebido da Guascor, empresa espanhola que produz a energia elétrica que abastece os consumidores do arquipélago do Marajó e da Calha Norte do rio Amazonas, no Oeste do Pará.

No citado documento, a Guascor estaria informando que a produção de energia elétrica nas suas termelétricas, nos municípios das duas região, segue normal.

A iniciativa da Rede Celpa é uma reação esperada à notícia veiculada, inicialmente pela TV Liberal, em Belém, de que a empresa espanhola suspenderia a produção de energia elétrica e retiraria seus geradores das termelétricas a diesel que funcionam nos municípios de Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Curuá, Óbidos, Oriximiná, Faro e Terra Santa, localizados no Oeste do Pará, mais os do Marajó, se não recebesse da Rede Celpa, até o próximo dia 25 (na próxima semana), aquilo que esta lhe deve. A notícia, que foi replicada em outros meios de comunicação, inclusive neste modesto espaço, repercutiu em todo o Estado e alertou os moradores das duas regiões.

Não interessa a nós o valor da dívida que a primeira tem com a segunda. Interessa, sim, a ameaça real que representaria aos consumidores daquelas região a suspensão da produção de energia pela Guascor - ainda que eu pessoalmente acredite que a ameaça não passou disso: ameça.

Municípios em alerta - Na verdade, diante de qualquer sinal de que a Guascor efetivamente suspenderia sua produção, as reações políticas - especialmente as dos moradores das duas regiões, antes mesmo dos governos e dos políticos - seriam imediatas e provavelmente violentas.

Se a ameaça da Guascor é puro misancene e pouco verossível, é mais que real a ameaça de que os municípios da Calha Norte não recebam a energia do linhão, a partir de maio do próximo ano, conforme anúncio oficial do governo federal.

Na verdade, a ameça da empresa espanhola teve um lado político positivo: serviu para alertar os moradores daquela região do quanto o linhão é necessário a eles - e não apenas para o consumo doméstico ou comercial. Há muitos anos que os municípios paraenses localizados na margem esquerda do rio Amazonas clamam pelo linhão.

Projetos econômicos adiados - Vários projetos econômicos importantes ao desenvolvimento regional já foram cancelados, adiados ou suspensos por falta de energia elétrica abundante e segura.

Na justificativa ao requerimento apresentado à Assembleia Legslaiva do Pará, a deputada Josefina lembrou que, nos anos 80, "Monte Alegre perdeu a Companhia Agroindustrial de Monte Alegre (Caima), que deveria produzir cimento a partir de uma mina de calcário lá existente, mas ela se transferiu para o município de Itaituba justamente pela falta de energia elétrica". Com a construção do linhão de Tucuruí na região, o grupo Camargo Correa vislumbra a possibilidade de explorar a mesma mina de calcário local, mas o não rebaixamento da tensão elétrica do linhão também joga água fria no projeto da empresa.

Josefina: Falta de energia elétrica já adiou diversos projetos de desenvolvimento econômico para a região

Na Calha Norte está o maior rebanho bovino do Oeste do Pará, estão as maiores unidades de conservação de uso sustentável do Estado, como as florestas do Paru, Trombetas e Faro, além de importantes áreas de pesca, de produção de grãos e frutas.

Lá também estão importantes reservas minerais, algumas estratégicas à economia regional e nacional. É o caso daquela que é considerada a maior reserva de bauxita do Brasil, uma das maiores do mundo, com mais de 5 bilhões de toneladas, localizada entre os municípios de Monte Alegre e Alenquer, elemento central de um projeto comandado pela mineradora Rio Tinto. A empresa pretende explorar a mina de bauxita, construir um mineroduto de cerca de 180 quilômetros de extensão e beneficiar o mineral em uma planta próxima ao rio Amazonas, para posterior embarque. Mas também falta energia elétrica para a concretização desse projeto. Isso sem falar na exploraçãod e bauxita no distrito de Trombetas, no município de Oriximiná, há mais de 30 anos.

No caso da produção agropecuária, nada, exatamente nada, é minimamente beneficiada na própria região. Os grãos, como milho e feijão, deixam os municípios produtores, como Monte Alegre e Alenquer, sem qualquer beneficiamento, saem in natura. A enorme produção pesqueira igualmente deixa a região na mesma condição, indo gerar emprego, renda e receita em outros municípios e regiões.

Finalmente, o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (Ideflor) prepara-se para liberar concessões para quase 400 mil hectares de florestas públicas para a exploração sustentável. Pelas regras estabelecidas pelo Ideflor, pelo menos 30% da madeira retirada das áreas exploradas deverão ser beneficiadas na própria região. Mas certamente faltará energia elétrica para que isso aconteça, pelo menos se prevalecer a decisão da Eletronorte de não construir as subestações de rebaixamento da tensão elétrica do linhão para atender aos municípios da região.

Em outras palavras, potencial econômico não falta à sub-região da Calha Norte. Falta, sim, energia elétrica que funcione como vetor de seu desenvolvimento.

Mobilização - Não se sabe com certeza se a ameaça da espanhola Guascor é real, ou apenas um blefe, nem se a reação da Rede Celpa é autêntica e verdadeira. Tem-se como certo que repórteres e editores da TV Liberal não inventariam tão grave notícia. Uma verdade, no entanto, é certa: a veiculação do imbróglio entre as duas empresas serviu para dar maior importância e gerar grande expectativa ao evento que a Assembleia Legislativa do Pará realiza, nesta quinta-feira, na cidade de Monte Alegre.

Os municípios se preparam para ir em comitivas, com prefeitos, vereadores e representantes de entidades civis. Monte Alegre se mobiliza intensamente para o evento. A Rede Celpa, o Governo do Estado e o Ministério das Minas e Energia confirmaram o envio de representantes. Os dois ministérios públicos (estadual e federal) também garantiram presença.

Tudo indica que a audiência pública será um grande evento político para a região. Ela será presidida pela deputada estadual Josefina Carmo (PMDB), autora da proposta.

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