terça-feira, 13 de março de 2012

MPF: LAGO DE BELO MONTE PODERÁ SER 55% MAIOR QUE O ANUNCIADO

Nos anos 80, cientistas fizeram previsões catastróficas para a construção da UHE de Tucuruí, o que não se confirmou. Também é preciso haver prudências com Belo Monte

O número de moradores de Altamira que serão impactados diretamente pela inundação do lago da usina hidrelétrica de Belo Monte poderá ser 55% maior que o registrado nos estudos de impactos ambientais do projeto, concluiu pesquisa feita pelo Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O levantamento, feito a pedido do Ministério Público Federal (MPF), aponta que o total de pessoas atingidas será de 25,4 mil moradores, e não de 16,4 mil, conforme previsão registrada no relatório de impactos ambientais do projeto.

A discrepância entre os resultados é causada, em resumo, porque os cálculos foram feitos a partir de referências diferentes. Enquanto a UFPA se baseou apenas em um marco topográfico homologado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a equipe contratada pela Norte Energia S.A (Nesa) adotou uma série de outros pontos topográficos que estão desatualizados ou que não são do IBGE. Além disso, esses diversos pontos, tecnicamente chamados de Referências de Nível, não estão ligados entre si.


PS: Quem já esqueceu aquele estardalhaço todo que fizemos - sim, eu, infelizmente, dei eco à denúncia -, no início dos anos 80, quando da construção da UHE de Tucuruí?

Dizíamos, com base em estudos de então renomados cientistas paraenses, brasileiros e até estrangeiros, que, com o barramento do rio Tocantins, as águas do oceano Atlântico adentrariam as baías do Marajó e do Guajará, que a população de Belém e arredores perderiam o acesso à água doce, teríamos apenas água salgada, etc, etc, etc... Até o Nilson Chaves, o nosso poeta e cantor paraense, acreditou e compôs "Toca Tocantins":

"Toca Tocantins
Tuas águas para o mar
Os meios não são os fins
Por que vão te matar?

Por que te transformar
Em águas assassinas
E nelas afogar a vida?

Toca Tocantins
Tuas águas para o mar
É lá o teu destino
Aqui não é teu lugar, ..."

Quando descobrimos que fomos enganados, já era tarde para refazer a versão aloprada que nos foi repassada pelos nossos cientistas.

Claro que devemos adotar, de forma preventiva, todas as medidas necessárias à minimização dos impactos ambientais, sociais e culturais a serem causados por empreendimentos necessários ao nosso desenvolvimento, como é o caso do AHE Belo Monte. Tenho a impressão que,mais uma vez, há interesses escusos e contrários ao Pará escondidos sob a bandeira da ecologia e da proteção aos povos indígenas.

José Maria Piteira
Jornalista

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