sexta-feira, 6 de agosto de 2010

UM "DEBATE" SEM DEBATE

Só agora estou podendo escrever sobre o debate de ontem, na Band, entre os presidenciáveis. No início da madrugada de hoje, no término do debate, só tive condições de postar a enquete que segue na coluna à esquerda (Serra teve melhor desempenho, diz a maioria dos leitores). O sono e o cansaço me venceram. Mas não posso me furtar de opinar sobre o evento.

Foi melhor assim, pois, se não tive tempo de escrever ainda na manhã de hoje, consumida em compromissos profissionais, sobrou-me tempo para refletir sobre o ocorrido.

Assim, posso afirmar, tempestivamente, que o debate de fato não aconteceu, pelo menos no sentido de confrontos de grandes projetos e ideias fundamentais para o Brasil. Não, isso não houve!

No máximo, existiu um Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) irônico, sarcástico, debochando do próprio evento e de si próprio. Causou risos em alguns por alguns momentos. Mais parecia um Pancho Vila tupininquim, sem os amplos bigodes do original mexicano, propondo uma revolução na qual nem ele mesmo acredita, mas fundada na busca da "igualdade", ainda que tenha esquecido da liberté e da fraternité, a trilogia do lema de outra revolução, a francesa.

Dilma se preocupou mais em propagandear os méritos do governo do "companhero" Lula - méritos estes também autoatribuídos a ela própria. "Nunca ninguém na história deste país" citou tantos números percentuais e nominais referentes aos últimos sete anos e meio, sempre em meio a muita incerteza e insegurança - gaguejou tanto e interrompeu tantas frases pela metade que parecia buscar na memória as lições do decoreba a que foi submetida nos dias antes do debate. Tentou centrar o debate na comparação entre os governos do tucano FHC e de Lula, mas recuou quando Serra retrucou que não se pode fazer política "com os olhos no retrovisor". Quando foi chamada por Serra a falar sobre as Apae's e os deficientes, simplesmente ficou no enrolation.

O candidato tucano, geralmente mais agressivo nas afirmações, mesmo sem ser grosseiro, foi ligth demais durante todo o debate. Evitou o confronto, deixou as críticas ao petismo de lado, não tocou em temas delicados ao PT, como o MST e os escândalos do mensalão, valerioduto, aloprados, Bancoop e as amizades com ditadores, como Ahmadinejad, Cháves e Evo Morales, entre outros. "Passado na casca do alho" de tantas disputas anteriores, Serra demonstrou nervosismo, também gaguejou, não deu destaque às propostas que já anunciou anteriormente, como a criação de ministérios voltados à segurança pública e aos portadores de necessidades especiais. Claramente, buscou a polarização do "debate" com Dilma.

A verde Marina Silva me agradou mais. Como os demais candidatos, no entanto, não destacou suas propostas de governo, mas foi firme e segura na hora de apresentar-se como a terceira via e opção entre os dois principais candidatos. Evitou o confronto, a crítica, mas destacou o fato de ter sido integrante do governo petista e de lá ter saído por discordâncias. Defensora do meio ambiente, afirmou ser possível combinar o desenvolvimento sustentável com a preservação da natureza, fugindo do carimbo de "ecolouca". Sua mensagem final foi emocionante.

Em resumo, não houve debate. O evento mais pareceu uma "troca de figurinhas", cada um se esforçando mais em não parecer antipático ou agressivo com os adversários. Exageraram na dose e, tô convencido, desadradaram a maioria.

O formato do debate também deve ser repensado. Priorizou-se a troca de perguntas entre os candidatos, e a maioria destas foi desinteressante, muita "figurinha". O resultado positivo do bloco de perguntas feitas pelos jornalistas aos candidatos mostrou que esse pode ser uma alternativa interessante, que deve ser priorizada, pois força os candidatos a expor pensamentos e propostas sobre assuntos que fogem da conveniência trivial da disputa. As perguntas dos jornalistas da Band aos candidatos foram mais interessantes que aquelas trocadas entre estes.

Que venham novos debates, mas debates de verdade!

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