sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PT: 30º ANIVERSÁRIO ENVOLTO EM CRISE PROFUNDA

DS e PT pra Valer: tendências do PT envoltas em divergência figadal. Puty e deputada ten Caten na linha de frente do fogo cruzado - fogo "amigo".


O PT do Pará vai comemorar os 30 anos no próximo domingo em meio a festas e uma crise interna entre as tendências “Democracia Socialista” (DS), capitaneada pela governadora Ana Júlia Carepa, e “PT Pra Valer”, que tem entre as lideranças o secretário de Estado de Transporte Valdir Ganzer e a deputada estadual Bernadete ten Caten, além do deputado federal Zé Geraldo e do líder do governo na Assembleia Legislativa do Pará, Airton Faleiro.

No centro do imbróglio está o possível avanço do chefe da Casa Civil, secretário Cláudio Puty, sobre a seara eleitoral de Bernadete, que tem base em Marabá. A estratégia de Puty teria sido, segundo fontes do “PT Pra Valer”, de cooptar o atual superintendente do Incra em Marabá, Raimundo Oliveira, até então aliado da deputada, para ser candidato à Assembleia Legislativa, o que poderia ameaçar a reeleição de Bernadete, já que os dois disputariam votos junto ao mesmo eleitorado.

A crise envolve também a nomeação do próximo superintendente do Incra em Marabá. Oliveira deixará o cargo para se dedicar à campanha.

Indagado sobre a briga, Zé Geraldo confirmou as informações divulgadas ontem na coluna Repórter Diário. “Na divisão de espaços, a superintendência do Inca de Marabá pertence a uma força interna”, explicou Geraldo, que coordena o “PT Pra Valer” no Pará. Ele lembrou que Bernadete é ex-superintende do Instituto em Marabá e foi responsável pela indicação do atual titular do cargo. “Nos últimos dias de dezembro, começamos a ouvir informações sobre a intenção do Raimundo de disputar a vaga na AL”, contou, confirmando que “naturalmente” um novo nome em disputa geraria uma concorrência com a deputada. A gota d’água foi uma reunião, realizada no último dia 22, entre a governadora, o superintende do Incra, 17 prefeitos da região e o chefe da Casa Civil. Bernadete e Geraldo, com grande atuação na região, não teriam sido nem informados.

Irritada, a deputada enviou carta à direção nacional da DS e ao PT do Pará. A carta não foi divulgada, mas uma fonte confirmou que, nela, ten Caten, ameaça bater chapa com Ana Júlia Carepa na convenção petista quando será referendada a candidatura da governadora à reeleição. “A Bernadete foi a deputada mais votada da região e não foi chamada (para a reunião). As informações que chegaram a ela é de que foi fechado o apoio para a candidatura do Raimundo”, contou Geraldo. Segundo ele, a reação de Bernadete é uma tentativa de separar a política do Incra na região do processo eleitoral. “Houve uma reação interna sobre a forma como o governo está agindo com relação ao mandato da deputada”.

O caso foi levado ao ministro da reforma Agrária, Guilherme Cassel, que é uma das lideranças nacionais da DS e terá grande peso na escolha do novo superintendente do Incra. Zé Geraldo conversou também com o presidente nacional do Incra, Rolf Hachbart. Apesar de não esconder o desconforto, o deputado, que também conversou com a governadora Ana Júlia e com Puty, disse acreditar numa solução para o impasse até a próxima segunda-feira. Ele admitiu, contudo, que a esta altura é difícil chegar a um nome de consenso.

Ocupado com os preparativos para a festa de 30 anos do PT, o presidente da legenda no Estado, João Batista, tentou minimizar a crise interna. “Isso (a disputa) faz parte da vida do PT”. Batista demonstrou, contudo, apoio a Bernadete e, sem citar Puty, afirmou que sempre que surge uma nova liderança é natural haver disputa por espaços, mas recomendou que esses novos nomes avancem sobre a seara dos adversários e não sobre as bases de lideranças petistas já consolidadas ou mesmo sobre o eleitorado dos aliados. “O PT é um partido onde é proibido proibir e ninguém manda em ninguém, mas quando uma liderança entra numa base mais consolidada gera conflito. O ideal é que avancem para os terrenos dos adversários e não em direção a nossas lideranças já consolidadas”.



Encontro não teve teor eleitoral, diz Puty

Cláudio Puty garante que a reunião no Palácio dos Despachos foi tratada “institucionalmente”. O encontro, disse ele, foi convocado pelo Incra, que tem feito discussões em todas as regiões sobre os convênios do Instituto com os governos estaduais. O secretário contou ter conversado com pessoas do Incra responsáveis pelo cerimonial, quando teria constatado que deputados foram convidados, mas não soube dizer o motivo da ausência de Bernadete ten Caten.

“Se a carta existe, mandaram para o endereço errado. Não é a governadora quem nomeia (o superintende do Incra), nem a DS”. A presença na reunião, explicou Puty, se deu por causa de suas funções como chefe da Casa Civil. “Tenho obrigação de receber as pessoas”, afirmou, ressaltando que outras pessoas que poderão vir a ser candidatas e têm cargos no governo “vão cumprir até aquela data (para se desincompatibilizar) suas funções institucionais”. “Se for candidato, vou sair no prazo legal. Se não for, a gente avalia depois”.

Puty disse não ver “nem um pouco” de conflito entre as funções na Casa Civil e a condição de pré-candidato e disse não se sentir pressionado a deixar a cadeira de secretário, apesar dos boatos de que lideranças petistas teriam pedido a saída dele do governo. “Essa (a saída de Puty) é uma questão central para nós”, disse uma fonte do PT, para quem a mudança facilitaria a relação do governo com a legenda e com os demais aliados. Segundo essa fonte, contudo, a ideia é convencer o grupo da governadora a fazer a mudança “para que a saída se dê sem traumas”.

“Tenho que prestar contas à governadora”, retrucou o secretário que, demonstrando tranquilidade, afirmou que a crise DS versus “PT pra Valer” “não está na pauta de preocupações” de Ana Júlia.

A deputada Bernadete que, por causa do sistema de rodízio, assume na próxima semana a liderança do PT na Assembleia, não quis se manifestar.



Fonte: www.diariodopara.com.br

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